6 DE MARÇO - DATA MAGNA DE PERNAMBUCO
A Data Magna do Estado de
Pernambuco, 6 de março, dia da Revolução Pernambucana de 1817 foi
estabelecida por iniciativa da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco
por intermédio da Lei nº 13.386, no dia 24 de dezembro de 2007. A Revolução Pernambucana de
1817 foi deflagrada no dia 6 de março e é um marco da luta contra a opressão da
Corte Portuguesa. Este movimento histórico foi liderado por Domingos José
Martins, com o apoio do padre João Ribeiro, padre Miguelinho, padre Roma,
Vigário Tenório, Frei Caneca, Antônio Carlos de Andrada e Silva, Domingos
Teotônio Jorge entre outros. Eles instalaram um governo provisório que tinha
como propostas a proclamação da República, a extinção de impostos abusivos e a
elaboração de uma Constituição para garantir direitos aos cidadãos, tais como:
a igualdade de todos perante a lei, a liberdade religiosa e a de imprensa. A Grande Loja Maçônica de Pernambuco, buscando o resgate histórico, exalta os nomes daqueles que doaram suas vidas na luta em prol da independência e do progresso do Brasil. Reconhecendo a importância desta data, foi publicado em 14 de julho de 2013 um texto intitulado Maçonaria na Revolução Pernambucana de 1817 de autoria do Past Grão-Mestre da Grande Loja Maçônica de Pernambuco, o irmão Francisco Bonato Pereira, 33º, Membro
Efetivo do Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a Republica Federativa do Brasil. Diz o texto: "A Revolução Americana (1767) e Revolução Francesa (1789) despertaram nos povos
do mundo um sentimento de liberdade nunca antes experimentado. Segundo o
pensamento de Hannah Arendt estas duas revoluções foram o gérmen da liberdade e
identificaram a tradição republicana (res publica) com o anseio da
universalização da liberdade e com a criação de um novo sistema político tendo
por base o poder delegado pelo povo e não mais uma nação colonizadora ou um
monarca autocrata. O sentimento de liberdade encontra
nessas duas revoluções o paradigma almejado para a liberdade dos povos. Esse
sentimento, estimulado pelo exemplo das Colônias Americanas, que se rebelaram
contra a Inglaterra e obtém a independência e da França, que derruba seu velho
sistema de governo autocrático e implanta a liberdade. Nas colônias espanholas
da America Latina eclodem as revoluções libertárias na Argentina (25 de Maio de
1810), no México (16 de Setembro de 1810), no rastro das idéias iluministas dos
direitos do homem, da liberdade e da auto-determinação dos povos, propagadas na
Europa a partir da Revolução Francesa. A divulgação dos direitos do homem e
da ideia de um governo republicano inspirou a Maçonaria no Brasil, em
particular depois da Revolução Francesa, quando os cidadãos derrubam a
monarquia absolutista secular. As idéias que fermentaram o movimento (século XVIII)
havia levedado o espírito dos colonos americanos, que emigraram para a America
em busca de liberdade religiosa e política. Essas idéias eram fermentadas em
Pernambuco desde o século XVIII, quando retornaram da Europa os arautos da
liberdade que ali receberam a luz do pensamento iluminista. 'Em Pernambuco,
porém, no século que expirou, a liberdade partiu do seio das sociedades
secretas, dos lábios dos adeptos da maçonaria para os ouvidos da multidão'.[1] Os primeiros divulgadores destas
idéias libertárias – os irmãos Arruda Câmara – foram denunciados em 1802 e
presos. Enquanto estiveram presos, seus discípulos divulgaram suas idéias.
Julgados inocentes, retornaram a Pernambuco, onde as Academias Suassuna e do
Paraíso continuavam divulgando as idéias, que se espalhavam como fogo em capim
seco. A vinda da família real para o Brasil
gerou mudanças nos interesses de comerciantes, de oficiais portugueses e de
proprietários de escravos e de terras do centro-sul (Rio, São Paulo e Minas),
que gravitavam em torno da Corte. Os habitantes das demais regiões,
proprietários rurais, governadores e funcionários públicos pouco ou nenhum
beneficio tiveram na mudança de Colonia para Reino Unido, com sede no Rio. Os
primeiros tinham consciência de que os favores e privilégios concedidos pelo
monarca português eram as causas do seu enriquecimento, enquanto os segundos
viviam, chegada da Corte no Rio de Janeiro, numa situação paradoxal: afastados
do poder pela distancia, tinham o ônus de sustentá-lo, por exemplo, pagando os impostos
sobre o açúcar, o fumo e couros, para despesas da capital, como a iluminação
pública do Rio de Janeiro, além de outros para despesas de obras públicas e
funcionamento da Corte. Outros descontentes com a política do
príncipe regente D. João, eram os militares nascidos no Brasil. O príncipe
trouxe tropas de Portugal e com elas organizou o exercito do Reino, reservando
os melhores postos os portugueses. Aumentou os impostos para custear as
despesas da Corte e as campanhas militares. Os seus ministros não hesitaram em
sobrecarregar as demais províncias com os recrutamentos e impostos para a
guerra no Reino, na Guiana e no rio da Prata. A insatisfação era mais forte no
nordeste, a mais antiga área de colonização do Brasil, afetada pela crise na
produção do açúcar, da cultura do algodão e pela seca. O desejo de independência no Recife,
capital de Pernambuco, era profundo. O sentimento generalizado era de que os
portugueses da Corte (Rio de Janeiro) exploravam os cidadãos das demais
regiões, em particular de Pernambuco, a antiga nobreza colonial, a elite
canavieira de Olinda, que travara a Guerra dos Mascates e fizera a guerra aos
holandeses, justificando sentimento anti-lusitanismo. O padre Muniz Tavares, destacado
político de Pernambuco, assim se refere a D. João: (…) Porquanto, que culpa tiveram
estes (habitantes de Pernambuco) de que o Príncipe de Portugal sacudido de sua
capital pelos ventos impetuosos de uma invasão inimiga, saindo faminto de entre
os seus lusitanos, viesse achar abrigo no franco e generoso continente do
Brasil, e matar a fome e a sede na altura de Pernambuco? A insatisfação dos brasileiros era
fermentada pelas ideias iluministas e alimentado discriminação: os nascidos no
Brasil, súditos do Rei, estavam em inferioridade no acesso a atividades de
comércio e cargos públicos, porque os portugueses detinham o monopólio do
comércio e de atividades rentáveis e o acesso a cargos rendosos, sempre
preterindo os nascidos no Brasil. Os membros das lojas maçônicas,
comprometidos com a luta pela liberdade contra o domínio português, planejaram
a revolução, a partir do Recife, incluindo o Nordeste e o país. Essa aspiração
foi absorvida por estudantes de Montpelier e de Coimbra, na Europa. As lojas germinadoras das idéias
revolucionárias. A Maçonaria Pernambucana, a mais
antiga no Brasil, nascida quando o território pernambucano abrangia, alem do
território do atual estado, as Comarcas das Alagoas e do São Francisco e nesta
território surgiu (1796)[2] o Areópago de Itambé[3], primeira loja maço-nica do
Brasil, e depois, dentre as vinte e oito (28) lojas que existiram do Brasil até
1822[4], onze estiveram em solo pernambucano, fato que não recebeu até hoje o
destaque histórico[5]. A pioneira loja maçônica do Brasil, o
célebre Areópago de Itambé, obra de Manuel de Arruda Câmara, cientista, com o
irmão Francisco de Arruda Câmara, iniciados em Montpelier, na França, onde
beberam o conhecimento e as luzes da liberdade. Dela eram membros Francisco de
Paula Cavalcanti de Albuquerque, Luis Francisco Cavalcanti de Albuquerque e os
padres Antonio Felix Velho Cardoso, José Pereira Tinoco, Antonio de Albuquerque
Montenegro e João Ribeiro Pessoa.[6] Mário Melo[7] assim descreve essa primeira
loja: (…) verá pela descrição que do
Areópago faz o dr. Maximiano Machado, que a associação de Itambé era um dos
templos maçônicos semelhantes aos da Europa e o primeiro que se instituiu no
Brasil (…). [8]Pernambuco foi a província que, a par
das liberdades políticas primeiro implantou o regime da igualdade e
fraternidade, com a instalação desse Areópago, de onde como satélites surgiram
as academias do Paraíso e Suassuna”. Ao passo que o Areópago é anterior a 1800,
as primeiras lojas eu surgiram no Brasil foram a Virtude e Razão, na Bahia, a 5
de julho de 1802 e Reunião, Consciência e Filantropia, no Rio de Janeiro, em
1802[9]. A finalidade das lojas era oculta
pelo véu de academias porque proscritas as sociedades secretas, seus membros
sujeitos a condenação por crime de lesa majestade. Existiram em Pernambuco, as lojas:
Academia Suassuna[10], organizada por Francisco de Paula Cavalcanti
Albuquerque, no Engenho Suassuna, Cabo, (1802); Academia Paraíso, no Hospital
João de Deus, dirigida pelo padre João Ribeiro Pessoa (1802)[11]; Oficina de
Igarassú (1815)[12], fundada pelo Capitão-mor Francisco Morais Cavalcanti,
dirigida por Antonio Carlos Ribeiro de Andrada; Universidade Democrática
(1815)[13], dirigida por Antônio Carlos Ribeiro de Andrada; Pernambuco do
Oriente[14], fundada por Antonio Gonçalves Cruz, em Manguinhos; Pernambuco do Ocidente[15],
fundada por Domingos José Martins, em sua residência[16]. As quatro últimas integraram a Grande
Loja Provincial[17] do Grande Oriente Brasileiro, fundado (1814) por Antonio
Carlos Ribeiro de Andrada, em Salvador, Bahia. Muniz Tavares[18] registra que a
luta da liberdade nasceu nas lojas maçônicas de Pernambuco[19]. As lojas
maçônicas Guatimosim, Restauração e Patriotismo são registradas na obra de Kurt
Prober.[20] A Revolução Republicana. Os povos das províncias estavam
insatisfeitos com as condições de vida e os impostos e empréstimos compulsórios
feitos pela corte. As idéias da liberdade do homem e auto-determinação dos
povos foram absorvidas. Os contatos com as várias províncias feitos e promessas
de apoio do exterior chegavam, inclusive de uma frota dos Estados Unidos da
América. O movimento envolvia a elite pensante da província (os padres e os
oficiais brasileiros das milícias), envolvidos pelas idéias sopradas nos
templos maçônicos. A respeito, Mário Melo, citando Franklin Távora[21], diz: (…) as lojas maçônicas de Pernambuco,
onde desde 1801 a maioria desses homens se reunia periodicamente, e, sem outra
paixão que o amor da pátria, tratava com perigo de vida, dos meios de fundar e
transmitir-nos precioso legado a que devemos a nossa emancipação política. E mais: As sociedades secretas que prepararam a infeliz conspiração do puríssimo Gomes
Freire e posteriormente e revolução de 1820 em Portugal, entraram nesse
trabalho de 1812 em diante. Os que prepararam a revolução que prematuramente
fez explosão em Pernambuco ocupavam-se com este grave empenho desde o começo do
século. Foi tão importante o seu papel na
formação da nossa nacionalidade política, tão relevantes os seus serviços, que
não fazer menção deles fora cometer uma injustiça.[22] Recrutados os adeptos, armados os
revolucionários e feitos os preparativos, esperou-se o dia aprazado para a
revolução, quando um fato antecipou a revolução. Circulando rumores no Recife
de que os maçons conspiravam, o governador Caetano Pinto Montenegro dizia que
aqueles apenas se divertiam. Fazendo manifestações claras contra os portugueses
e contra príncipe regente, os maçons foram denunciados pelo ouvidor: A denúncia chegou ao Governador por
meio de Manoel Carvalho de Medeiros, amigo do ouvidor Dr Cruz Ferreira, citando
os nomes dos conspiradores, que eram os chefes das lojas maçônicas: Padre João
Ribeiro Pessoa, da Academia do Paraizo; Domingos Jozé Martins e Antônio da Cruz
Cabugá, veneráveis das lojas Pernambuco do Oriente e Pernambuco do Ocidente, além
de membros das academias e alguns oficiais dos regimentos de 1ª linha, os quais
se soube mais tarde que os capitães Domingos Teotônio Jorge – emissário das
lojas de Pernambuco para tratar da revolução com as lojas do sul; José de
Barros Lima – o causador do rompimento de 6 de março e membro das academias e
Pedro da Silva Pedroso, iniciado não só nas duas academias como em todas as
escolas secretas; tenente José Mariano de Albuquerque, ‘profundo adepto dos
mistérios democráticos e sócio efetivo das duas academias' e o ajudante Manuel
de Souza Teixeira, ‘altamente iniciado nos mistérios preparatórios para o dia 6
de março', segundo o autor dos Mártires Pernambucanos. Os denunciados tiveram ordem de
prisão, sendo os brigadeiros encarregados de prender os oficiais dos seus
corpos. O marechal José Roberto recebeu a tarefa de prender os civis
denunciados. Amanheceu o dia 6 de março de 1817,
cujo sol, de forma proposital mente colocado na bandeira da revolução,
iluminaria para a sempre a história do Brasil. Os militares procuraram dar
desempenho às suas ingratas missões. Apenas dos civis foi traiçoeiramente preso
Domingos José Martins e ainda à traição detido o oficial Samuel Teixeira. Manoel Joaquim Barbosa de Castro,
português grosseiro, comandante do regimento de artilharia, para desempenhar a
missão, ordenou que os oficiais se reunissem à certa hora no quartel e na
presença de todos, insultou os oficiais, dizendo que os traidores se achavam no
seu regimento. Domingos Teotônio Jorge protestou e recebeu ordem de prisão. No
caminho da prisão no forte de Cinco Pontas, foi gritando: traição! traição!
(Era a senha da Revolução). José de Barros Lima, o Leão Coroado,
devido ao seu valor e coragem, irou-se com o procedimento do general,
censurando-os em público. E o assassinato do brigadeiro entrou nos planos da
revolta. Mais arrogante depois da prisão Teotônio Jorge, Barbosa deu ordem de
prisão a Barros Lima. Pois morre, miserável! E de um ímpeto
Leão coroado arrancou da bainha a gloriosa espada que fez rebentar a revolução
de 1817 e que o Instituto guarda como relíquia, embebendo-a no peito do
brigadeiro. Seu camarada e denunciado José Mariano completou a obra do tirando
a vida do comandante (…).[23] Proclamada a revolução, Leão Coroado
e dois companheiros assumiram o comando das tropas e preparam os soldados.
Soltaram os camaradas das portas das prisões, enquanto o governador fugia. A
revolução ganhou e adesões, enquanto as insígnias reais (portuguesas) eram
atiradas ao solo com desdém. No dia seguinte o Exercito nomeou os
eleitores e os reuniu no Erário (hoje Praça da Republica), elegendo o Governo
Provisório: Domingos José Martins, secretário do comércio; Domingos Teotônio
Jorge, secretário de guerra; Padre João Ribeiro, secretário de assuntos
eclesiásticos; José Luiz de Mendonça, secretário de justiça; e Manuel Correia
de Araújo, secretário de agricultura, todos maçons, exceto o último que,
realista, aderiu na tarde de seis de março e depois tornou-se traidor aos
patriotas. O padre Miguel Joaquim de Almeida
Castro foi nomeado secretário de Estado e o padre Pedro de Sousa Tenório, “um
dos mais profundos adeptos dos mistérios democráticos”, seu ajudante. José
Carlos Mairink, secretário da administração anterior, foi confirmado no mesmo
posto pela revolução triunfante! Foram nomeados conselheiros de justiça
(juízes de tribunal) os doutores Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, Manoel José
Pereira Caldas, Gervásio Pires Ferreira, Antonio de Morais e Silva e Bernardo
Luis Ferreira Portugal. Muniz Tavares, a memória da
Revolução, escreveu: Os princípios do governo eram os mais
adiantados: república federativa, tolerância de todos os cultos e emancipação
dos escravos. Bastavam esses credos, suprema aspiração
que o Brasil pode somente realizar setenta anos depois, para mostrar os
sentimentos generosos dos patriotas e que a revolução foi doutrinada
excelentemente. (…) A vida efêmera de 74 dias, decurso do
regime republicano de 1817, a revolução espalhou-se rápida-mente não só ao
norte e sul, graças as credencias de Suassuna preparando o espírito dos irmãos
ao norte em repetidas viagens, de Teotônio Jorge fazendo o mesmo ao sul e de
José Luiz Mendonça iniciando em sua casa os capitães do interior. Para o provar
citamos as palavras de Oliveira Lima, referindo-se à generalização no centro da
província e na Paraíba, onde não foi preciso inflamar a propaganda: 'Os
proprietários rurais, os militares e os populares que marchavam para a capital
da capitania onde as lojas maçônicas havia anos se nutriam dos novos ideais,
foram ali recebidos com efusão, sendo proclamado o novo regime no dia 13 de
março e organizada uma junta temporária, a exemplo de Pernambuco'. Propagada no Rio Grande do Norte,
Paraíba e Alagoas, a revolução não se pode estender até o Ceará, não obstante o
oferecimento do diácono José Martiniano de Alencar, de cujo tronco ramificou o
maior romancista brasileiro do século XIX. O governo revolucionário editou uma
Lei Orgânica que deter-minava: (1) os estrangeiros estabelecidos na região
dessem provas de adesão seriam considerados “patriotas”; (2) a abolição dos
tributos que oneravam os gêneros de primeira necessidade; (3) o Governo
Provisório duraria até a elaboração da Constituição do Estado por uma Assembléia
Constituinte, a ser convocada dentro de um ano. A Revolução Pernambucana abrangeu
todas as camadas da sociedade: militares, proprietários rurais, juízes,
comerciantes, artesãos, quase todos os sacerdotes da Província, a ponto de
ficar ser conhecida como a 'revolução dos padres'. A participação dos padres
deve-se ao fato de serem grandes proprietários rurais e desejarem proteger seus
interesses. As camadas humildes também aderiram, porque se sentiam atingidas
pelas medidas do governo português, que encareciam os gêneros alimentícios. A Liberdade proclamada pela Revolução
significava o fim do domínio português e a independência, senão da Colônia,
pelo menos do Nordeste. Nesse ínterim pelas ruas de Recife se ouvia, aqui e
ali, o seguinte verso: 'Quando a voz da pátria chama tudo deve obedecer; Por ela a morte é suave. Por ela cumpre morrer'. Rompendo com o passado de exploração e opressão, os patriotas pernambucanos
quiseram fazer uma revolução nos modos e maneiras de se relacionar com as
pessoas, pretendendo incutir o sentimento de igualdade, ainda que restrito aos
homens brancos. O francês Tollenare, que viveu em Pernambuco entre 1816 e 1818,
fez a observação a respeito da questão em seu livro 'Notas Dominicais': '(…) Em lugar de “Vossa mercê”,
diz-se “Vós”, simplesmente; em lugar de Senhor é-se interpelado pela palavra
Patriota, o que equivale a cidadão e ao tratamento de tu (…) As cruzes de
Cristo e outras condecorações reais abandonam as botoeiras; fez-se desaparecer
as armas e os retratos do rei.' Os novos modos são absorvidos pelas
camadas humildes da população, o que indigna os mais ricos, como mostra o
historiador Ilmar Rohloff de Mattos: Um português que vivia na cidade,
Cardoso Machado, comentava indignado: (…) até os barbeiros não me quiseram mais
fazer a barba, respondiam que estavam ocupados no serviço da pátria, via-me
obrigado a fazer a mim mesmo a barba (…). Havia, também, entre essa elite, o
medo de uma possível repetição da revolução de escravos ocorrida no Haiti, por
conta da repercussão entre a população mais pobre das idéias liberais da
revolução, como se pode perceber em outra fala atribuída a Cardoso Machado: (…) Cabras, mulatos e crioulos andavam tão atrevidos que diziam éramos iguais e
que haviam de casar, senão com brancas das melhores. Domingos José Martins
andava de braço dado com eles, armados de bacamartes, pistolas e espada nua
(…). O apoio para o movimento foi buscado,
sem sucesso, nos Estados Unidos, na Argentina e na Inglaterra. Nesta última
tentaram obter a adesão do jornalista Hipólito José da Costa, ali radicado. Quando a notícia da revolução chegou
a Corte, D. João promoveu uma violenta repressão, querendo evitar a ameaça à
união do Império. Os revoltosos entraram pelo sertão nordestino mas as tropas
enviadas portuguesas, acrescidas das forças organizadas pelos comerciantes
portugueses, ocuparam Recife em maio de 1817. Os Governadores da Bahia e do
Ceará prenderam os revolucionários que para ali se dirigiram, buscando adesão
ao movimento. A luta durou mais de dois meses, até as forças portuguesas
derrotarem os revolucionários. A repressão foi violenta porque o governo
português queria punição exemplar, para desestimular movimentos similares. E dentre os patriotas de 1817
sacrificados pela causa da liberdade contam-se: o padre João Ribeiro de Abreu e
Lima (Padre Roma), emissário da Revolução à Província da Bahia, preso e
condenado à morte e fuzilado no Campo da Pólvora, em Salvador[24], em 29 de
março de 1817; o padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro, que se suicidou no
Engenho Paulista, durante a retirada, enterrado na capela do engenho em 20 de
março de 1817. O seu corpo foi exumado, arrancadas as mãos e decepada a cabeça
e exposta no pelourinho de Goiana[25]; o padre Miguel Joaquim de Almeida Castro
(Padre Miguelinho), José Luiz de Mendonça e Domingos José Martins, julgados e
condenados à mortos em Salvador, em 11 de junho de 1817. O último era natural
do Espírito Santo (hoje cidade de Domingos Martins). Foram sacrificados pela liberdade,
condenados à morte na força, sem direito à defesa, Domingos Teotônio Jorge,
José de Barros Lima, Pedro de Souza Tenório (o vigário Tenório) e Antonio
Henrique Rabelo, José Peregrino Xavier de Carvalho, Amaro Gomes da Silva
Coutinho e Inácio Leopoldo de Albuquerque Maranhão. Os executados tiveram mãos e cabeças
decepadas e expostas no local de suas atividades e os corpos arrastados para o
cemitério presos a rabos de cavalos. Os primeiros, oriundos da Paraíba, foram
executados em 15 de julho, e os últimos em 21 de agosto de 1817. Em 1818, na ocasião da aclamação de
D. João VI, como Rei de Portugal e do Brasil, foi encerrada a devassa,
suspensas novas prisões e libertos os prisioneiros sem culpa formada.
Continuaram presos na Bahia os implicados que estavam com processo formado, que
foram anistiados e libertados em 1821, entre os quais Antônio Carlos Ribeiro de
Andrada[26], Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca) e o padre Francisco
Muniz Tavares. A maioria absoluta dos participantes
foi morta em combate ou condenados à morte e exilados. Os poucos remanescentes
da Revolução de 1817 participaram da Revolução de 1821 e da Revolução de 1824,
poucos sobrevivendo a esta última, sendo quase inexistente documentação
preservadora dos fatos, restando a memória de poucos sobreviventes como Muniz Tavares. A Comarca das Alagoas, separada da Província de Pernambuco, recebeu autonomia, em face do apoio dado à Corte. Na
Revolução de 1824 – Confederação do Equador -, a Comarca do São Francisco foi
separada de Pernambuco e anexada, provisoriamente à Bahia, onde permanece até
hoje. Encerrado o ciclo revolucionário em
1824, restaram poucos maçons em Pernambuco, de vez que a maioria pereceu nas
Revoluções de 1817, de 1821 (Convenção de Beberibe) e na Confederação do
Equador. [1] Melo, Mário Carneiro do Rego,
Obra citada, p. 1. [2] PEREIRA DA COSTA, Francisco Augusto, ANAIS PERNAMBUCANOS, Volume VII, p.
99-100. [3] PROBER, Kurt. ACHEGAS PARA A HISTÓRIA DA MAÇONARIA NO BRASIL, São Paulo,
1968, p. 29 e 71. [4] PROBER, Kurt, Obra Citada, p. 71. [5] Historiadores nacionais negam a existência do Areópago de Itambé e das
lojas dele nascidas alegando a inexistência de organismo formal, no Brasil
(século XVIII), com autoridade para fundar corpos. Esquecem princípios que
autorizavam, entre outros, ao Cavaleiro Rosa Cruz, sozinho, iniciar maçom e lhe
outorgar graus. NOTA DO AUTOR. [6] MELO, Mário Carneiro do Rego, MAÇONARIA E A REVOLUÇÃO REPUBLICANA DE 1817,
p. 8-9. [7] MELO, Mário Carneiro do Rego, MAÇONARIA NO BRASIL. [8] MELO, Mário Carneiro do Rego, MAÇONARIA E A REVOLUÇÃO REPUBLICANA DE 1817,
p. 4-5. [9] MELO, Mário Carneiro do Rego, A MAÇONARIA NO BRASIL. [10] Melo, Mário Carneiro do Rego, MAÇONARIA E A REVOLUÇÃO REPUBLICANA DE 1817,
p. 10. [11] Melo, Mário Carneiro do Rego, ACADEMIAS SECRETAS DE PERNAMBUCO, p. 72. [12] Melo, Mário Carneiro do Rego, MAÇONARIA E A REVOLUÇÃO REPUBLICANA DE 1817,
p. 10. [13] Melo, Mario Carneiro do Rego, opus cit, p. 10. [14] Melo, Mário Carneiro do Rego, opus cit, p. 12. [15] Melo, Mário Carneiro do Rego, opus cit, p. 13. [16] Melo, Mário Carneiro do Rego, opus cit, p. 12. [17] Muniz Tavares, Francisco, opus cit, Nota XXIII de Oliveira Lima, p. 279. [18] Muniz Tavares, Francisco, Obra citada, p. 37. [19] Muniz Tavares, Francisco, Obra Citada, p. 37. [20] Prober, Kurt, Obra Citada, p. 71. [21] Távora, Franklin, Patriotas de 1817, Revista do IAHGP, nº 60, ano 1903. [22] Melo, Mário Carneiro do Rego, Obra citada, p. 24-25. [23] Pereira da Costa, Francisco Augusto, Anais Pernambucanos, Volume VII, p.
380. [24] Melo, Mário Carneiro do Rego, Obra citada, p. 44-45. [25] Melo, Mário Carneiro do Rego, Obra citada, p. 45-46. [26] Antonio Carlos Ribeiro de Andrada veio a ser o lugar tenente comendador do
Supremo Conselho do Grau 33 do REAA, fundado em 1829 e instalado em 1932, e em
1935, assumiu o cargo de Soberano Grande Comendador desse corpo filosófico
(Nota do Autor)". Neste dia 6 de março, nossa GLMPE, homenageia a todos os escritores maçons, membros da nossa Sublime Ordem, que através de suas pesquisas, trazem para o conhecimento de todos a importância da maçonaria pernambucana nos diversos momentos históricos do povo brasileiro.
OZÉIAS CAETANO DA SILVA
Assessor de Comunicação Social da GLMPE
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